Fahrenheit 451, de Ray Bradbury

Fahrenheit 451 não é uma ficção científica. Fahrenheit 451 é um romance distópico.

Diferente da utopia, que nos apresenta um mundo possível com uma civilização ideal, um mundo positivo e imaginário aonde tudo vai muito bem, obrigado, a distopia é o inverso por nos apresentar um mundo com uma sociedade corruptível e um controle total e autoritário sobre ela, um mundo opressivo que usa a tecnologia como ferramenta de poder. E por estar interconectada com a presença da alta tecnologia, acaba sendo relacionada com as histórias de ficção científica.

O fato é que Fahrenheit 451, por ser um romance distópico, aproxima-se do gênero ficção científica. No entanto, em vez de focar nos aparatos tecnológicos e na ciência propriamente dita, como as obras científico-ficcionais normalmente fazem, Fahrenheit 451 focaliza a história na humanidade das personagens. Ou seja, a trama investe muito mais nos sentimentos humanos das personagens do que na tecnologia instrumental onipresente nesses tipos de livros. Esse jeito de conduzir uma obra de ficção científica aos aspectos humanos e deixar a tecnologia, dentro de um possível limite, como segundo plano, é considerado como um subgênero da ficção científica, chamado de ficção científica soft.

Dito isto, vamos ao que interessa.


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Publicado em 1953, Fahrenheit 451 é um livro de Ray Bradbury, escritor americano que se tornou famoso por seus romances visionários. Fahrenheit 451, que consagrou o autor mundialmente, é um deles.

O livro foi adaptado para o cinema em 1966, com direção de François Truffaut.

Considerado um clássico, escrito após a Segunda Guerra Mundial, Fahrenheit 451 traz essa distopia presente também em outras obras muito famosas. Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, e 1984, de George Orwell, são exemplos de romances distópicos.

Neste, porém, a história convida o leitor a conhecer as emoções de uma pessoa inserida em um sistema societário corrompido. Entre as crises emocionais e as linhas de pensamentos da personagem, o livro põe à tona um mundo onde um governo totalitário tem a missão de preservar uma sociedade livre da reflexão e do conhecimento.

Estamos falando de Guy Montag, um bombeiro que passa a questionar a sociedade onde vive e o trabalho que exerce. Um protagonista que, ao conhecer sua vizinha Clarisse, uma jovem que é vista como problemática e bizarra por ser romântica e sonhadora, começa a acionar sua consciência sobre como as coisas realmente funcionam no lugar onde vive.

O grande caso dessa sociedade presente em Fahrenheit 451 é que os livros são proibidos. Os livros são considerados objetos perigosos. Ler é crime!

E tem mais: o papel das autoridades, nesse mundo, é descobrir onde há livros e atear fogo. Isso mesmo! Os bombeiros, em vez de apagar o fogo, têm o papel inverso de botar fogo nos lugares “infectados” por um livro sequer.

“E, tal como antes, era bom queimar. Sentiu-se inundado pelas chamas, sequestrado, rendido, rasgado ao meio e o problema insensato eliminado. Se não havia solução, agora tampouco havia problema. O fogo era o melhor para tudo!”

As casas dessa cidade são à prova de combustão. Mas se os bombeiros descobrem a existência de um livro que esteja dentro da residência, tudo queima. E se o morador se recusar a deixar a casa… Pois é… Ele vai junto.

E o pior: foi a própria sociedade que impôs essa censura. Foram as pessoas que abriram mão do direito de ler livros por uma sociedade sem conflitos. As pessoas sacrificaram sua liberdade intelectual pelo entretenimento e pelo consumo.

Então, Montag, o bombeiro que começa a perceber as vidas vazias que respiram ao seu redor, onde as pessoas estão constantemente vidradas nas telas da televisão e chapadas em altas doses de comprimidos anestésicos, decide fazer alguma coisa contra essa sociedade tomada pela crença de que livros levam a pensar e ninguém precisa disso.

Ele, que tanto ateou fogo pela sua profissão, quer agora alterar essa realidade que, por viver sem livros, vive sem emoções, sem sentimentos, sem conhecimento algum.

“- Os que não constroem precisam queimar. Isso é tão antigo quanto a história e os delinquentes juvenis.

– Então é o que sou.

– Há um pouco disso em todos nós.”

Fahrenheit 451 traz uma sociedade que vive da abolição dos livros para falar, na verdade, como a televisão, a mídia, os meios de comunicação de massa, destroem o interesse pela leitura e pelo conhecimento. Com essa temática, Fahrenheit 451, além de levantar a falta de interesse pelos livros, acaba por ser uma crítica também à indústria cultural e do entretenimento.

Lembrando que o livro foi escrito em 1953… Quer algo mais real para a atualidade?

Essa alienação que dá base para o mundo de Fahrenheit 451 quer, no fundo, abrir os olhos do leitor. É um dos casos de como usar distopias para falar do real.

A temperatura em Fahrenheit 451ºF convertida em Celsius totaliza aproximadamente 232ºC, que é a temperatura capaz de fazer o papel pegar fogo.

Livros mudam vidas, sim!

“Uma fonte de livros jorrou sobre Montag enquanto ele subia trêmulo pela tosca escada. Que inconveniente! Antes, sempre fora como apagar uma vela. A polícia entrava primeiro e tapava a boca da vítima com fita adesiva e a imobilizava nas reluzentes viaturas negras e, assim, quando chegavam os bombeiros, a casa estava vazia. Não se feria ninguém, apenas coisas! E uma vez que coisas não podiam realmente ser feridas, já que as coisas não sentiam nada, e coisas não gritam nem choram, como esta mulher poderia começar a gritar e a chorar, não havia nada para importunar sua consciência depois. Você estava simplesmente limpando. Basicamente, um trabalho de faxina. Tudo em seu devido lugar. Rápido com o querosene! Quem está com os fósforos?”