Ligue os Pontos, de Gregorio Duvivier

ligue-os-pontos-de-gregorio-duvivier-2Carioca nascido em 1986, Gregorio Duvivier é um dos nomes mais frequentes quando se fala na nova geração de escritores brasileiros. Formado em Letras, ator, humorista, roteirista e colunista, começa a colecionar livros publicados e este o qual falo hoje é um deles.

Ligue os Pontos – Poemas de Amor e Big Bang é um livro de poesia, uma das obras (primas?) que Gregorio dedicou a Clarice, antes da separação. Esta, no caso, anunciada, estampada e assinada: “para a Clarice, é claro”.

Se você não faz ideia de quem é Gregorio ou de quem é Clarice, não se preocupe. O que importa é saber ligar os pontos.


Compre na Amazon: http://amzn.to/2g9WT9g


Publicado em 2013, Ligue os Pontos é um jogo poético. Nele, o primeiro passo é a cidade do Rio de Janeiro. Os bairros, as ruas, as linhas de ônibus. As referências e as gírias cariocas são os elementos paisagísticos da “Cartografia Afetiva” de Gregorio, primeira parte da obra constituída por poemas dedicados a Cidade Maravilhosa.

“difícil ser feliz nas festas de santa
teresa ou sentado nas escadarias
da lapa por melhor que seja
sua companhia é difícil ser
sinceramente feliz na
pizzaria guanabara às
cinco da manhã em
meio a pedaços de
pizza fria e o cigano
igor de chapéu há
lugares em que
você sabe que
não vai ser
feliz mas
vai”

“Aprender a Gostar Muito”, segundo passo do jogo, traz uma adolescência nostálgica e uma ironia fatal. Alguns intitulados, outros soltos pelas dobras do livro, os poemas passeiam pela insignificância do cotidiano e pela falta de importância do contemporâneo.

“querer tudo é não querer
nada é perceber que nada
é pior que tudo e qualquer
coisa é melhor que nada
é melhor do que não querer
tudo é querer uma coisa só
pois para ser feliz é preciso
querer uma coisa só e saber
deitar ao lado dela – quieto.”

Ligue os Pontos acumula poemas de amor (sim! e são os melhores) e também de big bang. Os mistérios do universo são, por ora, transformados em palavras. Assim como qualquer outra coisa que tenha florescido na cabeça do jovem poeta.

“se eu fosse um faraó do egito antigo
não me faria falta o carnaval do rio
o ipod o iphone o iogurte grego
o mate do galeão ou o miojo
de galinha caipira eu viveria feliz
por meses entre múmias e deuses
com cara de cachorro – ou quase:
a única invenção cuja inexistência
me obrigaria a tomar o cianureto
mais em voga das maravilhas do mundo
moderno a única que me faria falta
é você (e talvez quem sabe o ar
condicionado, mas sobretudo você).”

Entendendo ou não entendendo, gostando ou não gostando, se identificando ou não se identificando, o leitor da poesia de Gregorio não precisa de amolações. Ligue os pontos e enxergue o desenho que deseja enxergar. É assim a poesia de Duvivier.

“enquanto você dormia liguei
os pontos sardentos das suas
costas na esperança de que
a caneta esferográfica revelasse
a imagem de algum ser mitológico
de nome proparoxítono o mapa
detalhado de algum tesouro
submerso formasse quem sabe
alguma constelação ruiva oculta
na epiderme e me deparei
com o contorno de um polígono
arbitrário que não fornecia
metáforas não apontava direções
simplesmente dizia: você está aqui.”