De Mim Já Nem Se Lembra, de Luiz Ruffato

de-mim-ja-nem-se-lembra-de-luiz-ruffato-2De Mim Já Nem Se Lembra é um livro feito pelo tempo. Por meio de cartas, é uma tentativa de reconstituir um passado. É uma memória de uma família.

Luiz Ruffato é um escritor brasileiro nascido em Cataguases, em Minas Gerais. Já publicou vários livros. Entre eles, o conhecido Eles Eram Muitos Cavalos. De Mim Já Nem Se Lembra talvez seja uma das obras mais pessoais do autor.


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O livro é dividido em três partes. Na primeira, o narrador apresenta, poeticamente, um pequeno percurso que o faz chegar até um maço de cartas. Cartas essas escritas por seu irmão, já falecido, e destinadas para a sua mãe.

“O que restava do domingo tangemos sem pressa – a morte nos tocaiava em algum recanto vindouro. A lenha tornou-se brasa, tornou-se carvão, tornou-se cinza. A noite borrou o contorno do mundo.”

No fim da primeira parte, o narrador – nesse ponto o leitor já identifica a grande possibilidade de ser ele o próprio autor do livro – faz a devida dedicação da obra.

“Aqui reúno esse passado – modo de reparar meus mortos, que já pesam no lado esquerdo: meu irmão, minha mãe, meu pai, aqueles aos quais me reunirei um dia. A eles, este livro.”

A partir daí, na segunda parte do livro, que ocupa quase toda a obra literária, transcorrem-se as correspondências, responsáveis pela fluidez da leitura – é um livro rápido de ler, apesar da primeira parte alongada e cansativa.

Por elas, conhecemos a história de um jovem nascido e criado no interior de Minas Gerais que vai tentar a vida na cidade de São Paulo. Essa tentativa de mudança de vida, com claro objetivo de ajudar financeiramente a família, que ficou em sua cidade natal, é relatada por meio de cartas escritas entre 1971 e 1978.

São 50 cartas que resumem as experiências do jovem e os acontecimentos de sua vida. Nelas, é possível identificar as dificuldades de estar longe de casa e também as mudanças que a sociedade brasileira sofria naquela década de 1970, políticas, econômicas e sócio-culturais.

A terceira parte finaliza a obra com uma carta do narrador/autor para o irmão falecido, vítima de um acidente de carro aos 26 anos.

De Mim Já Nem Se Lembra é, sobretudo, uma forma de exprimir uma saudade que sempre vem, uma hora ou outra. A saudade do bem mais precioso que há: a família.

“Aquele agosto cristalizou-se numa fotografia, a única em que aparecemos juntos, um retrato meio desfocado tirado não sei por quem na praça Rui Barbosa, e que hoje adorna a estante da minha sala.”