Lolita, de Vladimir Nabokov

Publicado pela primeira vez em 1955, em Paris, na França, Lolita é um clássico da literatura e um dos principais romances literários do século XX. Obra mais importante de Vladimir Nabokov, Lolita é pura polêmica.


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Vamos começar com a história – um dos enredos mais controversos da literatura mundial.

Humbert Humbert é um professor de meia-idade que se “apaixona” perdidamente por Dolores Haze, apelidada de Lolita, com quem se envolve sexualmente, trilhando uma relação conturbada e obsessiva. A grande (e primeira!) polêmica da obra consiste no fato de que: Lolita é uma menina de 12 anos.

Pois aí está o assunto de Lolita, um livro que trata, entre outras coisas, de pedofilia.

“Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne. Minha alma, meu pecado. Lo-li-ta: a ponta da língua toca em três pontos consecutivos do palato para encostar, ao três, nos dentes. Lo. Li. Ta.”

Humbert Humbert, ou H.H., como ele mesmo se intitula, é o narrador do livro. Portanto, sim: temos um protagonista que é um narrador não confiável. E é nesse ponto que se encontra o grande perigo de Lolita.

A história é contada ao leitor pela visão desse narrador. É pelos olhos pervertidos e pela perspectiva nem sempre lúcida desse narrador que o leitor conhece e acompanha o enredo do livro. E por ser ele o narrador, o leitor cria automaticamente uma relação com H.H., que faz questão de estabelecer esse relacionamento durante vários momentos da obra.

O leitor de Lolita só tem essa visão da história e precisa tomar muito cuidado para não se deixar levar pelo narrador, não “cair na dele”. H.H. tenta convencer o leitor que a culpa não é dele, e sim das “ninfetas” (como ele chama as meninas pré-adolescentes, como Lolita) que o atraem. O narrador quer convencer o leitor de que ele está certo e ponto final.

H.H. é altamente manipulador. Por isso é imprescindível que o leitor nunca esqueça o que realmente está acontecendo, o que realmente é.

“Eu era um menino forte e sobrevivi; mas o veneno ficou na ferida, e a ferida sempre aberta, e logo me descobri amadurecendo no seio de uma civilização que admite um homem de vinte e cinco anos cortejar um garota de dezesseis, mas não uma menina de doze.”

Pois bem. Essa relação do narrador com a “ninfeta” de 12 anos cresce e toma vários rumos. É importante falar que Humbert Humbert torna-se padrasto de Lolita. Então, além de tudo, temos aqui certa relação de pai e filha, pondo na conta outro ponto polêmico da obra, que seria o incesto.

Ao conhecer a vida e os sentimentos do narrador, o leitor fica sabendo que Lolita não é a primeira garota (será a última?) que percorre a cabeça ardente do personagem. Um “amor” não consumado do passado sugere o início da fixação de H.H. por essas “ninfetas”, que despertam os mais profundos desejos de um homem inocente (para ele) ou um pedófilo (para nós).

“Mas naquele canteiro de mimosas, a névoa de estrelas, o zunido, a chama, o orvalho e a dor permaneceram comigo, e aquela menina com seus braços e pernas praianos e sua língua ardente assombrou-me desde então – até que finalmente, vinte e quatro anos mais tarde, quebrei seu feitiço ao encarná-la numa outra.”

A linguagem de Nabokov é tão genial, a narrativa do livro é tão única que H.H. narra cenas, mas faz questão de não descrevê-las. Quer dizer, lembrando que é ele quem controla a história, quem decide o que contar e como contar, há momentos que o leitor entende o que está acontecendo metaforicamente e isso é perturbador.

O cenário de sensualismo tira o leitor da zona de conforto e o coloca no lugar desse narrador. Cabe ao leitor (e seu estômago) sair ileso dessa atmosfera.

“Ah, deixem-me em paz no meu parque pubescente, meu jardim de musgos. Deixem-nas brincar à minha volta para sempre. Não cresçam jamais.”

É fato que o leitor de Lolita chega a simpatizar com o narrador. Isso acontece. E é por isso também que o livro é tão polêmico.

Destaco: o leitor deste livro não conhece Dolores Haze. O leitor deste livro conhece somente Lolita. Porque Lolita é a personagem que Humbert Humbert cria em sua cabeça doente e apresenta ao leitor nessa relação obsessiva.

Mas não romantizem! Lolita não é uma história de amor. Lolita é a crueldade mais polêmica da literatura. Ou seria a polêmica mais cruel?

“E o mais singular é que ela, essa Lolita, a minha Lolita, individualizou a velha luxúria do escritor, de modo que por cima e acima de tudo está – Lolita.”

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