Iracema, de José de Alencar

O índio. A mulher. A natureza. Iracema é uma história de amor, mas não é apenas sob o amor que José de Alencar se debruça na obra de 1865.

Na pintura da literatura brasileira, Iracema, a virgem dos lábios de mel, é a representação da figura do índio, da beleza da mulher e da riqueza da natureza.


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“O amor de Iracema é como o vento dos areais; mata a flor das árvores.”

Dividida em 33 capítulos, a obra conta a história de Martim, um colonizador português, de Iracema, uma índia tabajara, e do amor que surgiu e cresceu entre eles.

Narrado em terceira pessoa, o livro tem a costumeira linguagem imagética e quase poética de José de Alencar, tão cheia de metáforas e representações simbólicas.

O uso de elementos da língua indígena pode criar certa aversão de alguns leitores, mas é neste ponto que está a beleza da narrativa do autor, que faz de Iracema uma história inteiramente rica quanto a grandeza da natureza.

Alencar recupera nossa origem e valoriza nossa identidade. Por mais que exista, na história, a entrada do estrangeiro, a cultura européia que se faz pela figura do branco colonizador, é nos valores indígenas que Iracema se põe como uma obra altamente brasileira.

Além disso, o livro expressa, pelo enredo, o nacionalismo de uma lenda, a lenda da fundação do estado do Ceará.

Outras interpretações, puxadas pela história, colocam à vista a submissão do indígena ao colonizador português, relacionando isto ao amor de Iracema por Martim, que a faz abandonar sua família, seu povo e sua religião.

Aberto a elas, o livro torna-se clássico da literatura brasileira. E nada generalizado: Iracema é uma das principais representações do indianismo do movimento romântico literário.

“Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.

O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.”

Til, de José de Alencar

Til, de José de Alencar 2Poderia ser O Guarani, com o amor de Peri e Ceci. Poderia ser Senhora ou Lucíola. Poderia ser Iracema. Mas não é. É TilNão é o primeiro livro que li do José de Alencar. Mas é o primeiro livro desse autor que trago para cá. É Til.

Til é um dos romances regionalistas de José de Alencar. Publicado em 1872, o livro faz parte de uma fase onde o autor, natural do Ceará, usa e abusa do regionalismo na construção de suas histórias.


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Formado em Direito, José de Alencar seguia carreira política. Apesar de ter vivido somente 48 anos e ter tido a literatura como uma atividade paralela à política, ele escreveu 19 romances, seis peças de teatro, crônicas, ensaios e mais.

Foi em 1857, com O Guarani, que Alencar tornou-se um escritor reconhecido pela crítica e pelo público. Mas era na política que vivia intensamente.

Em meio a um grande projeto político, onde tinha o objetivo de escrever sobre a formação dos brasileiros, nasceu Til.

“Essa ingênua confissão, fê-la a menina com um gesto encantador, rasgando os grandes olhos puros e brandos, como se abrisse os seios d’alma ao pensamento suspeitoso do companheiro. Foi o olhar deste que abaixou-se encadeado e cego com a reverberação; e o rubor queimou-lhe as faces, enquanto a menina banhava-se em um sorriso de canduras.”

Com atenta observação nas tradições e nos costumes da época, a obra também traz à tona a linguagem do brasileiro. O vocabulário de Alencar em Til é difícil. Uma visita ao glossário é sempre bem-vinda.

O enredo acontece em uma fazenda no interior de São Paulo. Seguindo um dos caminhos típicos do romantismo, José de Alencar trama a história entre amor e aventura.

“O amor, porém, é contagioso, com especialidade na solidão, onde a alma tem necessidade de uma companheira, e quando de todo não a encontra, divide-se ela própria para ser duas: uma, esperança; outra, saudade.”

A protagonista do livro é Berta, típica romântica de coração grande que se sacrifica para ajudar ao próximo. Personagem central, a menina mulher exerce grande influência sobre as outras personagens do livro. Entre caridade e sensualidade, Berta é descrita como “pequena, esbelta, ligeira, buliçosa”.

É adorada por todos. Os meninos suspiram de amor por ela. Berta foi rejeitada quando nasceu. Por isso, foi criada por uma viúva chamada Nhá Tudinha.

A garota e Miguel, filho de sangue da mãe que criou Berta, são amigos dos filhos de Dona Ermelinda e Luís Galvão, Afonso e Linda.

Afonso e Miguel contraem uma paixão por Berta; e Linda por Miguel. Mas Berta trata todos como irmãos.

Luís Galvão também cria um sobrinho órfão, Brás, que tem problemas mentais. Brás vai à escola, mas não consegue aprender nada. Compadecida, Berta resolve ensiná-lo o alfabeto, relacionando as letras às pessoas que Brás conhece. Brás, por sua vez, entra em alegria ao ver o sinal do til (~). É assim que Berta vira Til.

A história enrola-se em outros muitos acontecimentos. Há tantos outros personagens. Sempre acompanhando a vida adolescente dos amigos e a vida rural da época, cheia de natureza brasileira, Til transborda amizade, paixão, inocência, confiança, amor e relação.

“E assim é tudo nela; de contraste em contraste, mudando a cada instante, sua existência tem a constância da volubilidade. Na vaga flutuação dessa alma, como no seio da onda, se desenha o mundo que a cerca; a sombra apaga a luz; uma forma devanece a outra; ela é a imagem de tudo, menos de si própria.”

Til é regionalismo e é romantismo puro. Os personagens são idealizados e, no enredo, há a típica luta entre o bem e o mal. Tem tristeza e alegria. Tem flashback. Tem meiguice e diálogos um tanto bregas. No entanto, também tem pitadas de mistério.

O começo é arrastado, saiba disso. Por vezes, é necessário persistência. Mas é Til.

Em Til, José de Alencar dá ponto alto nas descrições e nas comparações. É um livro de imagens, luzes, sons e cores. Uma história de sensações.

“Nesse monossílabo proferido por Berta, com sua voz sempre doce e melodiosa, percebia-se uma vibração íntima que destoava no meio daquela harmonia. Era como o brandimento da corda que estalava, ou como o áspero triscar do diamante no vidro.”